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2008-01-07

PORTUGAL MERECE MELHOR

Gostei mesmo. Mais do que ter gostado, adorava ter tido a capacidade de o ter escrito. (Velhos) António A. Sales
Quando ouvi pela rádio a justificação do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, para as penalizações fiscais dos pensionistas contempladas no orçamento de estado para 2008 (e para anos seguintes), fiquei estupefacto e esperei para ler nos jornais pois supus que teria ouvido mal. Os meus piores juízos foram confirmados, ou seja, tratava-se da necessidade (sublinhado meu) de estabelecer «maior equidade entre a situação dos trabalhadores no activo com a dos pensionistas com idêntico rendimento» (Correio da Manhã, 16.10.07, pág.19) como se estes tivessem hoje as mesmas possibilidades daqueles em obter rendimentos. Mais vírgula menos vírgula este excelso pensamento de justiça social vinha expresso, pelo douto ministro, fiscalistas e economistas, em todos os jornais. Era, pois, indubitável que os pensionistas portugueses gozam de «benefício excessivo» (CM, idem, idem), em relação aos trabalhadores. É difícil medir o grau de humilhação que um pensamento destes provoca em velhos (chamo deliberadamente velhos e não idosos), que trabalharam e descontaram, sobretudo daqueles cujas pensões são pouco avantajadas. As pensões hoje pagas pelo Estado não são um bónus mas o resultado do trabalho de quem, ao longo da vida, contribuiu para a riqueza nacional. Todos sabemos que os cofres da nação estão secos. Estão secos desde de 1830 (isto para não ir mais atrás), com monarquia ou com república, com ditadura ou com democracia, com Brasil ou União Europeia. Os cofres na nação estiveram sempre secos para o povo e sempre os governos resolveram esse desiderato vindo ao povo buscar os restos da sua pobreza. Mas se hoje estão secos não é apenas pela baixa produtividade dos trabalhadores portugueses, como se procura fazer crer, mas sobretudo do desregramento nos gastos da coisa pública, na má administração de governos sucessivos, das obras adjudicadas e concluídas a custos triplo e quádruplo do previsto, do compadrio e apadrinhamento dos partidos que encheram a administração pública com os seus serventuários militantes, quadros, amigos e familiares, dos institutos e empresas públicos gastando sem controlo e sem vergonha o dinheiros dos contribuintes, de uma máquina estatal burocrática, madraça e inoperante, da rede de interesses cruzados que conferem à democracia portuguesa opacidade. De tudo isto não são os velhos, na sua esmagadora maioria, que têm a culpa, embora hoje existam entre eles outros que noutro tempo também a tiveram. Contudo, o essencial da questão nem é isso, mas fundamentar a redução efectiva das pensões por comparação com aqueles que se encontram no activo e podem obter rendimentos dos seu trabalho, da sua iniciativa, da sua juventude, com outros que a idade impede de tudo isso e mesmo agrava, só pode ser interpretado como um pensamento economicista, sensível à despesa, ao défice, à ganância do estado pelos impostos. A sua «maior equidade» não é justa, nem digna, nem ética, nem humana, mas exactamente o contrário de tudo isso. É por isso que não consigo digerir o princípio (socialista?) que afecta os velhos ao equilíbrio com os novos, em descontos. É ofensivo! Mas não é apenas ofensivo como humilhante! O que sobre os velhos em Portugal a hipocrisia esconde deixa-se insinuar nas entrelinhas das estatísticas com os milhões de euros que custam à nação, com centros de saúde e urgências de hospitais que se fecham, com serviços que se lhes retiram, com pequenos benefícios que se lhes subtraem como um excedente que não merecem como se os velhos fossem um corpo social inútil, um estorvo económico incómodo para o défice, concorrendo para fazer de Portugal uma coisa triste. Mesmo com cuidados palitativos (que são isso mesmo, paliativos), é atormentar-lhes ainda mais a proximidade da morte. Portugal devia envergonhar-se da forma como trata os seus velhos e uma nação que não ama os seu velhos pode cantar ao pagode as loas que quiser mas não é uma nação, apenas um povo que vai perdendo os seus valores e apodrecendo por dentro na embriaguez da riqueza de poucos apoiada na pobreza de muitos. Domesticados pelo circo político, bêbados pelo prazer pago a prestações para toda a vida, iludidos pela sedução dos sacrifícios de hoje para um amanhã melhor sempre adiado, essa nação é também um povo de velhos e tal como hoje os trata assim será tratada um dia como povo e como pátria. Jamais imaginei que os ideais de esquerda humanista que recebi na juventude teria de os ver sub-repticiamente excluídos da sociedade portuguesa. Um dia Mário Soares disse que tinha guardado o socialismo na gaveta, não disse, porém, que a tinha fechado à chave. O Portugal do socialismo moderno, liberal, global, abriu a gaveta, foi buscar o socialismo e meteu-o no contentor do lixo. Talvez seja tempo das antigas vozes socialistas ainda vivas lembrarem ao povo português que apesar de se obrigarem professores a trabalhar com doenças terminais e se fazerem buscas policiais a sindicatos com agentes à paisana, esse povo tem o direito, de facto, à indignação e deve indignar-se de uma maneira firme e incontestável.

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